sexta-feira, setembro 24, 2010


Meu doce mistério da vida...


"A mim ensinou-me tudo.Ensinou-me a olhar para as coisas.Aponta-me todas as coisas que há nas flores.Mostra-me como as pedras são engraçadas.Quando a gente as tem na mão...E olha devagar para elas...

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.Ele é o humano que é natural.Ele é o divino que sorri e que brinca.E por isso é que eu sei com toda a certeza...

E a criança tão humana que é divina.É esta minha quotidiana vida de poeta. E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre. E que o meu mínimo olhar. Me enche de sensação,E o mais pequeno som, seja do que for,Parece falar comigo.A Criança Nova que habita onde vivo. Dá-me uma mão a mim. E outra a tudo que existe. E assim vamos os três pelo caminho que houver,Saltando e cantando e rindo. E gozando o nosso segredo comum. Que é saber por toda a parte. Que não há mistério no mundo. E que tudo vale a pena.A Criança Eterna acompanha-me sempre.A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.O meu ouvido atento alegremente a todos os sons. São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.Damo-nos tão bem um com o outroNa companhia de tudoQue nunca pensamos um no outro,Mas vivemos juntos e dois. Com um acordo íntimo. Como a mão direita e a esquerda.Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas. No degrau da porta de casa,Graves como convém a um deus e a um poeta,E como se cada pedra. Fosse todo o universo. E fosse por isso um grande perigo para ela. Deixá-la cair no chão.Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homensE ele sorri porque tudo é incrível.Ri dos reis e dos que não são reis,E tem pena de ouvir falar das guerras,E dos comércios, e dos navios. Que ficam fumo no ar dos altos mares.Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade. Que uma flor tem ao florescer. E que anda com a luz do Sol. A variar os montes e os vales. E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.Depois ele adormece e eu deito-o.Levo-o ao colo para dentro de casa. E deito-o, despindo-o lentamente. E como seguindo um ritual muito limpoE todo materno até ele estar nu.Ele dorme dentro da minha alma. E às vezes acorda de noiteE brinca com os meus sonhos.Vira uns de pernas para o ar,Põe uns em cima dos outros. E bate palmas sozinho ...

Sorrindo para o meu sono..."



Vemo-nos no futuro, onde quer que ele seja...