terça-feira, agosto 24, 2010

Memórias de actores...

-Silêncios
Onde ninguém nunca, nunca chegará. Onde o meu nome me mata. Onde não há ninguém. Onde esta grande imensidão de jardins que observo não chega a voz.
Ainda espero pelo rasgo de sol que romperá este silêncio.
Dá-me luz!
Sinto todos os ossos do meu corpo a estalarem. Ecos na minha consciência. Lamparinas a iluminar o velho túnel do esquecimento. As rochas que escrevo, e os morcegos que penso.
Um sentimento que sempre reluz aqui. Sentado. A pensar se devo pensar neste meu pensamento complexo, que de um modo ou de outro me desfaz a cabeça em pedaços.
Adoro estar vivo.
-Agradeço todos os dias por estar aqui. E sorrio a cada minuto que passa. Mas à minha maneira. Uma maneira que nem sempre compreendo. Mas sim, sorrio. E sorrio a cada suspiro teu neste momentos em que o silêncio invade a sala e nos faz flutuar nas almas uns dos outros. Questionando-nos sempre no que um e outro está a pensar. Aqui, juntos, unidos pelos ecos da consciência.
E amanhã seremos os mesmos?
Amanhã estaremos juntos perdidos em pensamentos complexos que nos preenchem a alma?
-Lamurias do tempo
Volto a este recanto cheio de memórias. A insegurança de dar um passo mais em direcção ao abismo. Saudade de vozes que nem sempre entendemos. Como um sussurrar meigo junto a minha orelha.
Junto a esta orla de espectros sentimentais, tento repousar. Mas não é fácil com o aumento exponencial de raios de luz na sala.
Tantos risos.
-Tertúlia
Precipitando-se ao encontro do vazio, Isacar morre. Não há tempo para tentar ser menos benevolente. Perdi a noção do espaço.
Muito me agasta que tenhamos todos que sofrer. Muito me dói não vos poder dizer isto. Saber que tenho palavras que não posso pronunciar, a cintilar nos meus olhos. Um pequeno pedaço de neve. Para ti tão nova e surpreendente. Para mim um momento e recordação, mas banal. Como posso entender, e ser entendido, por alguém que não fala a minha língua, alguém que não sabe como sou, alguém que não entende o que faço, e o que faz não entendo.
Não tenho que dizer isto. Mas é uma boa maneira de tentar explicar a quem tomar conhecimento disto.
Não há tempo a perder, mas adoro perder tempo. Ver como ele passa. Como ele faz com que as folhas beijem o chão.
Vejo todos os dias um objectivo comum mas diferente.
Uma dorzinha que corrói e faz vacilar o corpo.
Como uma música mal cantada.
O acorde perfeito num filme romântico.
Aquele olhar que seduz a mente.
A palavra que gostamos mas nem sempre entendemos.
A tua mão.
Sorris.
Obrigada por estares ai.
A minha frente.
-Eu estou aqui? - Perguntava ela constantemente, esperando uma resposta que já era certa… é claro que estava, no jogo estávamos todos, àquela hora, espalhados pelo chão… embalados numa melodia quase certa, ou tão certa quanto os suspiros internos de cada um… e mais uma vez a noite cobre-nos com o seu manto. Fazendo-nos perder no tempo. Recordando histórias, penetrando suavemente nos sentimentos de cada um… observando como o tempo passa… e como passa por aqui, nestes ecos silenciosos dos nossos remoinhos individuais. Apesar dos risos, e do fumo que enche a sala, a verdadeira essência dos nossos momentos aqui está muito para lá da aparência dos nossos corpos, já cansados deste dia…
-Acordas de vez, e o que vês não passa do teu sonho.
Pensei que gostava de estar em casa, mas as minhas asas não voam esse caminho.
Vou embora e deixo aqui uma marca. Não quero ter a sensação de que o dia me passou ao lado.
Vejo-me como uma lesma pegajosa que deixa um rasto de ranho no caminho.
Procura o caminho lamacento e encontrar-me-ás.
Nunca ninguém disse que era fácil.
Não interessa. Chega de jogos estúpidos que jogamos para ver quem perde melhor. Não há tempo. Outra vez.
-Não são jogos. Somos meramente Humanos. Percorremos trilhas. Cansámos-nos e procuramos um lugar para repousar. Deitamos o corpo e quase inconscientemente começamos a procurar na nossa cabeça qualquer, a mínima coisa que possa ter marcado o nosso dia. Coisas tão vulgares mas que nos marcam tanto na vida…
-Já te viste aí, no meio do palco? Sabes, calças de ganga, camisola da equipa. Papeis na mão, também...“Texto!” “Texto? Não há…mas não interessa...

Rodrigo Leão
"Histórias"
"Carpe Diem"...
Saudades...